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Peru surpreende e ganha vaga sul-americana da SSL Gold Cup

Antonio Alonso

12/06/2022 10h11

As eliminatórias sul-americanas para a SSL Gold Cup Finals, a Copa do Mundo da Vela, terminaram neste domingo (12) com a vitória do Peru, comandado pelo atleta olímpico Stefano Peschiera. Os peruanos ganharam a última regata com pontuação dobrada e estão classificados para as provas finais, que serão entre 28 de outubro a 20 de novembro de 2022, na cidade de Manama, no Bahrein. O Chile terminou na segunda colocação do grupo, que tinha Uruguai e Venezuela, e também carimbou seu passaporte.

As equipes sul-americanas se juntam ao Brasil do bicampeão olímpico Robert Scheidt no mata-mata da nova competição, que tem semelhança ao Mundial da Fifa. Outro país vizinho que estará nas disputas no Oriente Médio é a Argentina, comandada pelo ídolo da vela Santiago Lange.

A decisiva regata do qualificatório da SSL Gold Cup foi realizada com vento fraco em Grandson. Na tabela, Peru, Uruguai e Chile entraram empatados, não podendo haver erros. Os venezuelanos, sem chance de avançar, largaram sem pressão e abriram pequena vantagem. Os peruanos, que não eram favoritos à vaga, se mantiveram perto da ponta e ganharam a prova quase no photo-finish. Foram três vitórias consecutivas.

"Não éramos favoritos, mas mantivemos a cabeça fria e fizemos reuniões técnicas pós-regatas para melhorar. Estamos felizes por representar o Peru e vencer a competição. Agora esperamos seguir Brasil e Argentina, que são os grandes da vela do continente. Quem sabe a gente faça treinos juntos e compartilhe informação para defender a América do Sul", explicou Stefano Peschiera, representante do país em Tóquio 2020 na Laser.

Os chilenos, na água, conseguiram navegar bem durante a semana, mas a perda de pontos na véspera colocou o time em situação complicada, tendo que chegar à frente de pelo menos um adversário numa prova valendo o dobro. O tático Felipe Etchenique, que mora em São Paulo (SP), destacou

"Foi dramática e difícil. Perdemos pontos na véspera e virou tudo. Com o empate entre as equipes, a regra era quem chegasse na frente hoje. Depois da largada passamos o Uruguai e no final só marcamos eles, era essa a estratégia", contou Felipe Etchenique. "Seria uma pena a gente ficar de fora, mas estamos muito contentes em estar nas finais. Agora vamos ver nossos amigos do Brasil no Bahrein".

Na chave europeia, Portugal e República Tcheca estarão no Bahrein nos meses de outubro e novembro para a SSL Gold Cup Finals.  A regata final foi a mais emocionante da série, com alternância de posições desde a largada. Na última perna de popa (vento a favor), os portugueses ganharam mais velocidade e cruzaram em primeiro lugar. A segunda vaga ficou com a República Tcheca, que deu um jibe antes do fim e por poucos segundos superou Bulgária e Turquia.

Os portugueses tiveram na proa um dos talentos da vela do país, que é Mafalda Pires de Lima. A atleta é a atual vice-campeã do Mundial Junior de Snipe ao lado do irmão Tomás Pires de Lima. Na edição deste ano, que será em Cascais, em agosto, a velejadora tentará o ouro no geral.

"Foi uma série difícil, mas acreditamos do começo ao fim. A equipe foi se adaptando ao longo da semana às funções a bordo, por isso velejamos melhor e melhor. No Bahrein queremos chegar até a final", explicou Mafalda Pires de Lima.

No pódio após o hino do país ,os portugueses fizeram a famosa comemoração do ídolo Cristiano Ronaldo com o grito de Siiiiii, mesmo usado pelo craque do Manchester United e da seleção campeã europeia de 2017.

A próxima eliminatória será entre os países latino-americanos Cuba, Guatemala e México, além do Qatar. As regatas ocorrem no mesmo Lago Neuchâtel, de 27 de junho a 3 de julho. A última qualificatória será de 11 a 17 de julho e terá dois grupos. China, Índia, Malásia e África do Sul estão em uma chave e Coréia do Sul, Singapura, Tailândia e Ucrânia na outra.

Duas nações se qualificam para as oitavas e depois às quartas-de-final. Se o Brasil passar em primeiro entra no grupo de Itália, Espanha e mais uma equipe a definir nas eliminatórias. Se terminar em segundo, a tripulação verde e amarela encara Nova Zelândia e Austrália, além do primeiro da chave que pode ser França ou Suécia, chave considerada a "da morte" no campeonato.

Os argentinos estão também nas oitavas, na mesma chave dos Estados Unidos. Se passarem em primeiro, pegam Grã-Bretanha e Dinamarca na fase seguinte. Avançando em segundo, entram no mesmo grupo de Alemanha e Holanda.

Como a Copa do Mundo da Fifa, a SSL GOLD CUP oferece um desafio singular com oportunidades iguais para todas as 40 equipes, que correm exatamente no mesmo barco, o SSL 47, um veleiro de alto- desempenho de 14 metros, entregue pela organização.

Além do chamado Brazilian Storm, apelido dado à equipe brasileira, a SSL Gold Cup terá os melhores velejadores do mundo como Ian Williams e Sir Ben Ainslie (SSL Team GBR), Tom Slingsby (SSL Team Austrália), Anne-Marie Rindom (Dinamarca), Xavier Rohart (SSL Team France), Taylor Canfield (SSL Team United States) e outros mais.

Diferentemente do que ocorre nos Jogos Olímpicos, em que a medal race (regata da medalha) premia o barco mais regular levando em conta os resultados das regatas anteriores, vencerá a SSL Gold Cup a equipe que correr mais rápido na hora da decisão. Os países serão eliminados fase a fase até a Grande Final, com apenas quatro seleções. O troféu será organizado a cada quatro anos pela Sailing Athletes Foundation (SAF).

Assim como no futebol, cada time contará com 11 atletas. A bordo do SSL Team Brazil estarão as bicampeãs olímpicas Martine Grael e Kahena Kunze, ao lado de Henrique Haddad, Gabriel Borges, Henry Boening, Juninho de Jesus, Joca Signorini, Alfredo Rovere e Mário Trindade.

Os velejadores serão liderados pelo multicampeão Robert Scheidt, dono de cinco medalhas olímpicas e capitão da equipe.  O CEO do SSL Team Brazil é Bruno Prada, que tem duas medalhas olímpicas ao lado de Scheidt na classe Star: uma prata em Pequim 2008 e um bronze em Londres 2012.

 

Sobre o Autor

Antonio Alonso Jr é capitão amador e cobre esporte há 15 anos, com passagens pela Folha de S.Paulo e por um UOL ainda em seus primeiros anos de vida. Jornalista e formado também em Esporte teve a excêntrica ideia de se dedicar à cobertura náutica, com enfoque para a Vela. Depois de oito anos na principal revista especializada do país, estreia seu blog em novo endereço no UOL.

Sobre o Blog

A vela é o exemplo claro de que o sucesso de um esporte não se mede em medalhas. Ela foi o esporte que mais medalhas Olímpicas deu ao Brasil. Ainda assim, é um esporte desconhecido, com enorme dificuldade de atrair público e restrito a guetos idílicos. Este blog não está interessado em resolver esse problema, mas em trazer mais para perto esse esporte excêntrico, complicado talvez, mas cheio de matizes empolgantes e que coloca atletas e meio-ambiente numa simbiose singular no mundo esportivo. Bem-vindo a bordo.

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