Uruguaios vencem a 42ª Semana de Vela de Ilhabela
Quase deu pro "Seu Tatá", o barco carioca mais simpático (pelo menos no nome) da Semana de Vela de Ilhabela (ou Ilhabela Sailing Week, pra quem não tem muita certeza em que país está). Foi-se a Rolex, ficou o nome gringo… é tanta chiqueza que não cabe na minha varanda gourmet.
Neste sábado (11) chegou ao fim a 42ª edição da Semana de Vela de Ilhabela. Uma das grandes novidades foi a presença da crise, que espantou patrocinadores e trouxe de volta a saudosa classe bico de proa. Mas — isso acontece com maior frequência do que imaginamos — a falta de grana acabou transformando o evento para melhor lá e cá. Aplausos para a Mitsubishi Motors do Brasil, corajosa, fiel e solitária patrocinadora da edição 2015, a mais aconchegante dos últimos tempos. Sorte dos uruguaios que assumiram as rédeas do Cristabella, um Judel Vrolijk 57 que já foi um gigante das raias brasileiras na década passada (com os nomes de Asa Alumínio, Phoenix Mitsubishi e Loyal).
Curiosamente, o evento que foi marcado pela falta de vento começou com uma quebra de recorde na regata mais dura e disputada da semana, a Alcatrazes por Boreste. O veleiro gaúcho Camiranga completou o percurso de 60 milhas (101 km) em 6h04min03seg, baixando a marca do argentino Cusi 5 (um Soto 40). Para quem gosta de tabus, ainda há uma marca histórica a ser quebrada nesta regata. Há 10 anos, em 2005, o Volvo 70 Brasil 1 (com uma galera de convidados, jornalistas, amigos e parceiros a bordo) terminou o percurso em 6h00min18s, mas o veleirão não estava oficialmente inscrito na Semana de Vela. Mas esse vento todo do primeiro dia, que passou de 30 nós, não apareceu nos dias seguintes. Apenas parte das regatas barla-sota programadas foi disputada. No final, o uruguaio Cristabella, ficou com o título máximo da competição. O barco, que já velejou muito em águas brasileiras e já teve com um dos donos Marcelo Massa, vencedor na classe C30, mostrou a que veio e estava sempre entre os primeiros nas montagens de boia. Parabéns ao time!
Leia abaixo o resumo do último dia (fotos de Marcos Mendez)
O imponente barco uruguaio de 48 pés, Cristabella, e sua tripulação rigorosamente uniformizada em vermelho, mantiveram a regularidade durante a semana e venceram a única regata disputada neste sábado (11). A decisão foi dramática. Na véspera, os uruguaios estavam em terceiro lugar na classificação geral, com 13 pontos perdidos, contra 12 do líder Itajaí Sailing Team e 12,5 do Seu Tatá (RJ).
Além de vencer a regata decisiva no tempo corrigido, o Cristabella foi também o fita azul (primeiro a cruzar a linha de chegada). É a única vitória dos uruguaios, que obtiveram ainda dois segundos lugares em seis regatas. A prova final começou com vento sudoeste de oito nós (15 km/h), o que viabilizou formato barla-sota, com quatro pernas, dentro do Canal de São Sebastião. No meio da regata a intensidade caiu para cinco nós e depois praticamente zerou. Os últimos barcos tiveram de se arrastar para concluir a prova.
Desde 2011, com o título do S40 Pisco Sour, do Chile, a Ilhabela Sailing Week não contava com um campeão de outro país. Entre as cinco conquistas internacionais registradas ao longo de 42 anos, pela segunda vez a principal competição de oceano do continente tem um vencedor do Uruguai. A primeira foi em 2006, com o Memo Memulini. A Argentina esteve no degrau mais alto do pódio em duas ocasiões: 2007 com o Personal e 2009 com o Cusi 5.
Sonho realizado – Pela primeira vez em Ilhabela, os velejadores do Yacht Club Uruguayo levarão para Montevideo apenas lembranças positivas da Capital Nacional da Vela. "Fomos recebidos fantasticamente. Corremos bem desde o primeiro dia, na Regata Alcatrazes com vento de 30 nós, situação comum no Uruguai", relatou o timoneiro do Cristabella, Martin Meerhoff, que incluiu na tripulação o filho Joaquim, de 14 anos, velejador da classe 29er.
"A sexta-feira (10) foi um dia precioso. Deixou os três primeiros colocados separados por apenas um ponto. Neste sábado, conseguimos largar bem e abrimos em relação aos rivais. Quando o vento acabou já estávamos em primeiro e chegamos com mais de oito minutos de vantagem para o segundo colocado. Para os uruguaios, velejar em Ilhabela é um sonho. Vencer, para mim é um orgulho. Nosso país tem mais títulos mundiais na vela do que no futebol", declarou o campeão Martin.
O Itajaí Sailing Team, do Iate Clube de Santa Catarina, e o Seu Tatá, do Iate Clube do Rio de Janeiro, ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente. Embora tenha sido a estreia da tripulação em Ilhabela, o Cristabella já conhecia as raias do Canal de São Sebastião, onde navegou sob comando do tetracampeão brasileiro de C30, Marcelo Massa, antes de ser transferido para o país vizinho.
Massa confirma mais um título – A C30 consagrou o Loyal CA Technologies como o melhor barco da classe no País. Um dia depois de conquistar o tetracampeonato brasileiro, o barco de Marcelo Massa venceu também a Ilhabela Sailing Week. "O Brasileiro era apenas nosso primeiro objetivo. Trouxe mais confiança para a tripulação e partimos para o segundo título. Mais uma vez mostramos que regata se ganha na água", ratificou Massa. O Loyal somou 12 pontos perdidos, contra 14 do vice Caballo Loco, e 15 do medalha de bronze Zeus Team, de Florianópolis.
Por apenas um ponto – A classe HPE 25, maior flotilha do campeonato com 20 embarcações, viveu uma situação inusitada e um final eletrizante. O campeão Suzuki Bond Girl teve o mastro quebrado logo na regata de abertura, para depois conquistar o título com 11 pontos perdidos, apenas um de vantagem sobre o vice, Ginga, que também ficou a um ponto do terceiro colocado, Repeteco Take Ashawer.
"Trocamos o mastro e não sabíamos o que aconteceria. Já vivi experiência semelhante quando fui campeão brasileiro de Pinguim com um mastro torto. Agora virou amuleto. Não sei se vou comprar o mastro emprestado ou um novo. O Ginga, pelos treinos em Ilhabela, sempre é o barco a ser batido e nós conseguimos vencê-los", comemorou o Rique Vanderley, o comandante campeão.
Ilhabela domina RGS – Asbar II Total Balance, de Sérgio Klepacz; Rainha Empresta Capital, de Leonardo Pacheco; e BL3 Urca, de Pedro Rodrigues, foram os três primeiros na RGS Geral, pela ordem. "Foi uma disputa acirrada, principalmente com o BL3 Urca. Na regata decisiva, estávamos marcando o Urca quando merrecou (o vento acabou). Não havia o que fazer e quem se aproveitou da situação foi o Rainha", Gostaria de dar os parabéns a Comissão de Regatas, que salvou o campeonato nos dias difíceis para se montar a raia", contou Paulo de Jesus, o Tinah, tático do Asbar II.
Alto nível na Star – Os barcos da classe Star elevaram o nível técnico da competição pelo terceiro ano consecutivo. Marcelo Bellotti e Pedro Bolder conquistaram um título inédito com quatro vitórias em seis regatas. Os argentinos Torkel Borgstrom e Juan Pablo ficaram com a medalha de prata, seguidos pelos campeões sul-americanos Marcelo Fuchs e Ronald Seifert.
"Estou muito feliz depois de batalhar durante um ano e meio para andar bem na classe. O Pedro, na proa, ajudou muito. Fiquei contente com nossa velocidade em um campeonato de alto nível. Conseguimos segurar o Torkel, sempre próximo colocando pressão na gente. Até este domingo de manhã estava muito tenso, mas fiz uma ótima regata", afirmou Bellotti.
Desfile inédito em frente à Vila O dia da decisão foi aberto com um desfile das embarcações antes da largada. Mais da metade dos 145 inscritos aceitou o convite da Comissão de Regatas (CR) para o evento informou que levou os barcos a passarem rente ao píer da Vila (centro histórico de Ilhabela.). O público em terra delirou com as manobras mais ousadas e a saudação dos tripulantes. Mais de 500 torcedores se aglomeraram a partir das 10h00 para aplaudir, fotografar e acenar para os velejadores que, embarcados, retribuíam ao carinho com buzinas, apitos e coreografias no convés.
"Apoio plenamente a ideia. A iniciativa contribui para a vela e aproxima o público dos barcos e dos velejadores. O Magia Energisa estará presente", garantiu o comandante Lars Grael assim que chegou ao Yacht Club de Ilhabela para o dia decisivo. "Foi bom demais. Deveria se tornar uma tardição", comentou Iriana Bottene, fã da modalidade e que acompanhou toda a movimentação no píer. Com a narração do evento, ao vivo, turistas e moradores tiveram a oportunidade de ver os esportistas em ação e compreender o que acontecia na água, como se estivessem na arquibancada de um estádio ou ginásio.
Sucesso nas redes sociais – Pelo segundo ano consecutivo, a Ilhabela Sailing Week premiou o "Diário de Bordo" para a tripulação mais ativa nas mídias sociais. O Maestrale 2, comandado por Adalberto Casaes, foi o vencedor com números expressivos: 39 posts publicados, mais de 200 comentários, 2.200 compartilhamentos, 3.600 visitas únicas e quase 5.000 visualizações.
Campeões de cada classe
ORC Geral – Cristabella (Martin Meerhoff)
ORC A – Cristabella (Martin Meerhoff)
ORC B – Santa Fé V (Nelson Avila Thomé)
ORC C To Nessa (Renato Faria)
IRC – Cristabella l(Martin Meerhoff)
C30 – Loyal/CA Technologies (Marcelo Massa)
Brasileiro de C30 – Campeão: Loyal/CA Technologies (Marcelo Massa)
HPE 30 – Carioca Jr. (Roberto Martins)
HPE 25 – Suzuki/Bond Girl (Rique Wanderley)
Clássico – Cangrejo (Ricardo Carvalho)
Mini – Jacaré (Pedro Fukui)
RGS Geral – Asbar II (Sérgio Klepacz)
RGS A – Kalymera V (Antonio Carlos Paes Leme)
RGS B BL3 Urca (Pedro Rodrigues)
RGS C Rainha/Empresta Capital (Leonardo Pacheco)
RGS Cruiser Helios II (Marcos Gama Filho)
Bico de Proa A – H2Orça (Hilpert Zamith)
Bico de Proa B Super Bakanna (Alexandre Dangas)
Star – Marcelo Bellotti/Pedro Bolder
Equipes – Iate Clube do Rio de Janeiro (Seu Tatá / Magia / Kalymera / Kybixu)
Diario de Bordo – Maestrale II (ORC/IRC, Adalberto Casaes)
Resultados completos no site oficial
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