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Sobre as Águas

Deu tudo errado na Vela do Pan?

Antonio Alonso

20/07/2015 12h52

 

A competição de Vela terminou ontem em Toronto com "o pior resultado do século", conforme correta matéria de Ítalo Nogueira, na Folha. O Brasil, que tinha como meta levar 10 medalhas para casa (pódio em todas as classes em disputa), terminou atrás da Argentina no quadro de medalhas. O sempre competente Bruno Doro, no UOL, traz excelente matéria aqui no UOL falando sobre o "lado sujo" da Vela no Pan. Como as equipes ficam separadas, não há intercâmbio. Como há poucos competidores em cada classe (na Lightning eram cinco; na Snipe, 10), os líderes se definem rapidamente e a disputa fica muito mais acirrada. As chances de recuperação são muito, muito pequenas.

Eu confesso que, antes da competição estava apostando em quatro ouros que não vieram: 49er FX, Snipe, Sunfish e Lightning. Apostaria ainda, em boas chances para Scheitd, na Laser, e  no J/24 (classe em que o Brasil ficou em último lugar). Então deu tudo errado?

Pra ser completamente sincero deu, sim.

Uma parte da resposta está na frase de Bimba que, mesmo garantindo o ouro soltou: "Toronto não é lugar pra velejar". Vento fraco é loteria, verdade. Numa raia com poucos competidores e vento fraco é muito fácil se enrolar. Um erro aqui, outro ali… e pronto, você já não tem mais chances de título. Foi o que aconteceu com Scheidt.

Outra parte está na matéria de Bruno Doro. O que ele chamou de "lado sujo" na verdade é uma competição ultra-intensa, um vale-tudo que aparece também nas Olimpíadas. Não vejo isso como jogo sujo, mas é um jeito de velejar mais feio, certamente é. "Elas já eram campeãs e continuaram marcando a gente. Ninguém entendeu nada", disse Martine Grael ao UOL. As argentinas da 49erFX, ocupam a 22ª posição no ranking mundial. As brasileiras, a primeira. O que a dupla argentina fez foi encontrar uma maneira de derrotar as brasileiras na água e dentro das regras. E querem saber? Acho ótimo que tenha acontecido agora, porque isso serve de lição para as Olimpíadas. Velejando em casa, Martine e Kahena serão vítima desse tipo de jogo o tempo todo. Hoje elas são a melhor dupla do mundo, mas ninguém é imbatível. É ótimo que elas sejam lembradas disso durante a fase de treinos.

Também é verdade que o time olímpico brasileiro não se preparou especificamente para o Pan. Isso envolve, às vezes, perder 10kg de peso, como fez o windsurfista mexicano. Enquanto os argentinos, mérito deles, se prepararam muito bem para a competição.

Dito tudo isso, acho que deu, sim, tudo errado. Mesmo dando tudo errado, a Vela brasileira deixa o Pan com mais medalhas do que qualquer outro país: seis , duas de cada cor, mas com um ouro a menos que a Argentina. Além das medalhas, uma lição importante.

Alguém pode achar que isso é pouco. Eu não.

 

 

Sobre o Autor

Antonio Alonso Jr é capitão amador e cobre esporte há 15 anos, com passagens pela Folha de S.Paulo e por um UOL ainda em seus primeiros anos de vida. Jornalista e formado também em Esporte teve a excêntrica ideia de se dedicar à cobertura náutica, com enfoque para a Vela. Depois de oito anos na principal revista especializada do país, estreia seu blog em novo endereço no UOL.

Sobre o Blog

A vela é o exemplo claro de que o sucesso de um esporte não se mede em medalhas. Ela foi o esporte que mais medalhas Olímpicas deu ao Brasil. Ainda assim, é um esporte desconhecido, com enorme dificuldade de atrair público e restrito a guetos idílicos. Este blog não está interessado em resolver esse problema, mas em trazer mais para perto esse esporte excêntrico, complicado talvez, mas cheio de matizes empolgantes e que coloca atletas e meio-ambiente numa simbiose singular no mundo esportivo. Bem-vindo a bordo.

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