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Sobre as Águas

Homenagens às mulheres velejadoras

Antonio Alonso

08/03/2019 16h21

O Dia Internacional das Mulheres é mundialmente especial e não poderia ser diferente na Vela.

Estávamos pensando em uma homenagem, quando chegou a horrível notícia do falecimento da incrível Sophie Bely (leia aqui no post de João Lara Mesquita sobre ela e sobre o acidente). Jamais poderia haver uma homenagem às mulheres hoje sem uma menção a esta mulher do mar.

Graças a guerreiras da paz, como Sophie, e aos deuses e deusas dos ventos e dos mares, as mulheres estão cada vez mais presentes em nosso esporte. E elas não tiveram caminho fácil.

Fernanda Oliveira e Isabel Swan conquistaram a primeira medalha Olímpica da nossa Vela feminina em 2008, com muito suor, pouco apoio e um talento sem fim. Essa medalha veio 40 anos depois da primeira medalha masculina.

Hoje já temos até campeãs olímpicas. E elas brilham em grandes eventos como Olimpíadas, Mundiais, Ocean Race, Transat Jacques Vabre, Semana de Vela de Ilhabela e colocam medo em muito marmanjo nos clubes do país.

A World Sailing, por exemplo, trabalhou forte para que em Paris 2024, mulheres e homens tenham o mesmo número de atletas nas classes escolhidas.

Demorou.

Uma seleção é sempre injusta. Sabendo disso, ousamos lembrar de alguns nomes dessa multidão que faz a Vela brasileira o que ela é hoje.

 

 

Martine Grael e Kahena Kunze

As primeiras campeãs olímpicas da vela brasileira. As duas fazem história desde as categorias de base, brilhando em Mundiais da Juventude, Mundiais de classe, Pans e Olimpíadas. Sim, Olimpíadas, pois elas já estão com a vaga em Tóquio 2020 na 49erFx. Martine fez história também ao se tornar a primeira brasileira a correr a Volvo Ocean Race.

Renata Pelicano Grael

A fiel escudeira de Lars Grael. A sua homenagem vai para uma frase dela que nunca vou esquecer! "Eu não casei com sua perna" . Lars Grael sofreu o acidente que lhe causou a amputação da perna direita, em setembro de 1998.

Mara Blumer

Mara vive com seu marido Hélio (meu comandante) velejando. Sim, muitos anos atrás trocaram um apartamento por veleiros. Estão sempre, os dois, correndo campeonatos, como a Semana de Vela de Ilhabela, e outros eventos sediados na Marina Bracuhy. "Velejo desde criança, e a vida a bordo sempre foi um sonho. Quando conheci Hélio, ele não velejava, mas aprendeu e adorou esse hobby", disse Mara Blumer à Marie Claire.

Bibi Juetz

Lenda da Snipe, Bibi Juetz começou a velejar com 7 anos num 20 metros com seu pai. Desde o fim dos anos 40, Bibi está envolvida com a classe, uma das mais vitoriosas da vela brasileira. Inspirou muitas mulheres a entrar na modalidade, o que era algo um pouco difícil no país de outrora.

Fernanda Oliveira e Isabel Swan

A dupla conquistou a primeira medalha olímpica da vela feminina! Um bronze em Pequim 2008 nas águas de Qingdao. Resultado na 470 foi comemorado com barco virado e muita emoção no pódio. A diferença de resultados em relação aos homens começou a ser descontada na China. Hoje, Fernanda Oliveira tenta mais uma vaga olímpica na 470 ao lado de Ana Barbachan. Isabel Swan, que correu a Rio 2016 na NACRA, se destaca nos bastidores da vela atualmente no Conselho de Administração da CBVELA

Lorena Kreuger

"Quando o destino levou meu pai, e me jogou o negócio da família no colo, a única certeza que eu tinha era de que não tinha a menor ideia do que fazer". Lorena Kreuger assumir o estaleiro Kalmar após a partida do pai em 2008. No último ano da faculdade de Design Industrial, Lorena assumiu o estaleiro e modernizou as operações, mantendo o trabalho artesanal na construção de embarcações de lazer em madeira.

Carolijn Brouwer

Carolijn Brouwer aprendeu a velejar com a família Grael quando seus pais mudaram da Holanda pra Niterói. Seu talento na vela foi longe, incluindo olimpíada e mundiais. Mas foi na Volvo Ocean Race que ela mostrou a que veio! Campeã com o Dongfeng Race Team em 2017-18, Carol será timoneira no Team Holanda na America's Cup 2021

Sibylle Buckup

Junto com Joerg Bruder, Sibille trouxe a classe Optimist pro Brasil em 1972. Brilhou em várias classes e atualmente se dedica à arbitragem de vela. "As meninas e as mulheres têm mais sensibilidade para ventos, rajadas, e conseguem se adequar a qualquer situação mais complexa!"

Izabel Pimentel

Izabel tem sempre um projeto novo e manda notícias regulares a bordo de seu Dom. Foi a primeira brasileira a realizar uma volta ao mundo em solitário. Em 2006, se tornou a primeira velejadora brasileira a cruzar o Oceano Atlântico em solitário, em uma viagem que durou 42 dias e 6 horas. Ela partiu no dia 10 de julho de Cascais, Portugal e chegou a Fortaleza, Brasil no dia 21 de agosto às 22h. Pimentel velejou em um Mini-transat de 21 pés (6,5 metros) e, no total, percorreu 5.300 milhas (9.500 km).

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É verdade, muita gente ficou de fora. Ingrid Grael, a tenista matriarca da família mais vencedora do esporte brasileiro tem seu lugar cativo. Não estão aqui nomes inesquecíveis como Carol Béjar, a dupla campeã mundial nos Jogos da Juventude Isabel Ficker e Laura Zanni, Marina Klink… As campeãs mundiais universitárias Renata Decnop, Fernanda Decnop, Juliana Mota e Larissa Juk, e as vices Juliana Senfft, Luciana Kopschitz, Gabriela Sá e Marina Jardim… Sem falar nas professoras, oficiais de regata, medidoras, técnicas e organizadoras que fizeram com que a nossa Vela chegasse até aqui. E continuar!

Sobre o Autor

Antonio Alonso Jr é capitão amador e cobre esporte há 15 anos, com passagens pela Folha de S.Paulo e por um UOL ainda em seus primeiros anos de vida. Jornalista e formado também em Esporte teve a excêntrica ideia de se dedicar à cobertura náutica, com enfoque para a Vela. Depois de oito anos na principal revista especializada do país, estreia seu blog em novo endereço no UOL.

Sobre o Blog

A vela é o exemplo claro de que o sucesso de um esporte não se mede em medalhas. Ela foi o esporte que mais medalhas Olímpicas deu ao Brasil. Ainda assim, é um esporte desconhecido, com enorme dificuldade de atrair público e restrito a guetos idílicos. Este blog não está interessado em resolver esse problema, mas em trazer mais para perto esse esporte excêntrico, complicado talvez, mas cheio de matizes empolgantes e que coloca atletas e meio-ambiente numa simbiose singular no mundo esportivo. Bem-vindo a bordo.

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