Eu velejei num Volvo Ocean Race 65
Bom, na verdade eu não velejei. Quem teve essa sorte e foi no meu lugar foi o fotógrafo uruguaio-brasileiro Marcos Mendez. Um dos melhores especialistas em imagens náuticas do país, Marcos é um apaixonado por vela. Como todo apaixonado, vira-e-mexe se mete em polêmicas por suas opiniões tão carregadas de paixão.
Vou deixar ele contar, em duas partes, como foi essa história e a experiência de velejar no barco de uma das principais equipes da Volvo Ocean Race:
"Exatamente duas semanas atrás o Jr, Antonio Alonso Jr, o dono deste blog me mandou uma mensagem perguntando se eu iria para Itajaí. Eu com meu temperamento nada delicado logo respondi que não, a não ser que alguém me pagasse e pagasse todas as minhas contas na viagem. Dois dias depois ele me colocou em contato com o pessoal da assessoria de comunicação da Mapfre Brasil que fizeram questão de pagar todos os custos de viagem meus até a cidade catarinense, onde acontece o "Stop Over" uma das paradas da regata volta ao mundo.
Após essa invertida, eu fui. Ainda que uma parte de mim continuasse indignada. É que duas semanas antes um dos tripulantes do Scallyweg, o britânico John Fischer havia morrido de hipotermia após cair no mar. Foi dado um alerta de homem ao mar às 8am da manhã UTC-5, horário local do Cabo Horn. Naquele dia acordei com uma notícia que foi um soco no estômago. Era angústia, impotência e indignação por saber que, em pleno século XXI, um homem cai ao mar e ninguém consegue achá-lo. Nem mesmo o maior evento de vela oceânica do mundo. Com toda a tecnologia que possuímos, o Google sabendo o que eu havia tomado no café da manha do dia 15 de novembro de 2016 e com a NSA rastreando cada um dos meus e-mails particulares, para mim não fazia sentido como uma pessoa caia no mar e não podia ser localizada naqueles parcos 20 minutos, tempo no qual o corpo humano perderia a capacidade de manter-se aquecido na água dos mares antárticos, a 9 graus de temperatura.
Compartilhei minha indignação em grupos de Whatsapp e com amigos velejadores de todo o Brasil. Muitos disseram que não havia honra maior para um velejador do que morrer velejando ainda mais em uma competição como é a Volvo Ocean Race. Outros compartilharam comigo do sentimento.
Toda esta sensação e emoções foram profundamente vividas pela comunidade de velejadores brasileiros. Ainda mais porque trouxeram a lembrança de outro acidente fatal, ocorrido três meses antes, quando o Vestas 11 hours Racing atropelou um barco pesqueiro matando um de seus ocupantes. Um acidente que poderia ter sido evitado facilmente se o barco tivesse um radar de baixo alcance, equipamento de custo aproximado de 2500 dólares.
Foi depois disso que eu desabafei na internet. Eu, Marcos Méndez, velejador praticante, casado com uma atleta e medalhista pan-americana, dentro de uma família já tradicional da vela brasileira não podia entender como um dos maiores eventos náuticos e da vela mundial podia continuar existindo. Eu sei hoje que é uma posição radical, mas foram duas perdas humanas. Sei também que os velejadores que encaram uma Volta ao Mundo são conhecedores dos riscos. Mas quando se trata de vidas humanas, nossa exigência e patrulhamento precisam ser radicais.
Foi nesse espírito que recebi a ligação do Antonio Alonso. E, de certa maneira, me desarmei:
-Rapaz você tem que ir pra Itajaí, a Ana da Mapfre vai te ligar e coordenar contigo, já está tudo acertado, você vai pra lá
-É pro Blog?
-É pro Blog em meu! Não vai fazer cagada! Se comporta, hein!
-Beleza, promessa é dívida, deixa comigo.
E foi então que eu vi de perto outro lado, que precisa, sim, continuar existindo"
E a velejada?
O Marcos já volta aqui pra contar como foi a velejada.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.