Topo

Sobre as Águas

Mar bravo: Transat Jacques Vabre mais que duplica quebras

Antonio Alonso

29/10/2015 15h37

Transat Jacques Vabre

Edição de 2015 já registrou sete abandonos contra apenas três da última. Marca pode aumentar com pit-stops anunciados. A edição 2015 da Transat Jacques Vabre pode ser considerada uma das mais difíceis e impiedosas para os velejadores. Até o início da tarde desta quinta-feira (29), sete dos 42 barcos que largaram no último domingo (25) em Le Havre, na França, com destino a Itajaí, no Brasil, desistiram por quebras ou capotagem. Outros três podem deixar a prova nas próximas horas após pit-stops programados em portos da Europa. O principal motivo é a força dos ventos e o tamanho das ondas no chamado Golfo de Biscaia, que fica entre o Nordeste da França e o Norte da Espanha. A previsão de mau tempo se concretizou na região e resultou em sérios problemas para as duplas que participam da prova. "É uma travessia muito longa e complicada. Confesso que fiquei preocupado quando recebi a previsão da meteorologia antes da largada, mesmo sabendo que é uma tradição da Transat pegar frentes frias pelo caminho", disse o campeão olímpico Eduardo Penido, que faz dupla com Renato Araújo a bordo do Zetra, único barco 100% brasileiro da história da Transat Jacques Vabre.

A edição de 2013, que teve o mesmo percurso de 10 mil quilômetros entre a França e o Brasil, registrou apenas três desistências. A temporada mais dura foi a de 2011 com 15 quebras. Naquele ano, mais de 40% da flotilha não chegou a Costa Rica. O espanhol Guilhermo Altadill, velejador do Hugo Boss, afirma que não existe Transat Jacques Vabre sem tempo ruim. Ele e seu companheiro britânico Alex Thomson foram obrigados a mudar o curso para fazer uma parada e consertar o barco da IMOCA em Vigo, na Espanha. "As condições meteorológicas nessa época do ano são assim e é uma tradição da prova pegar pelo menos duas frentes frias no início da regata. É preciso passar por isso para encontrar uma melhor navegação".

O caso mais complicado até agora foi do barco Maxi80 Prince de Bretagne. Os velejadores foram resgatados em segurança após o multicasco capotar. A dupla se abrigou no interior do trimarã e acionou o sinal de emergência. Horas depois, os franceses foram salvos por um helicóptero do centro de coordenação de salvamento marítimo da Espanha (MRCC).

O La French Tech Rennes Saint-Malo colidiu em um contêiner e também foi obrigado a sair da regata. Outros veleiros estão a caminho de terra para tentar fazer os reparos necessários e seguir viagem.

Líderes após quatro dias de regata
Os Ultimes, modernos e velozes trimarãs de 30 metros, aceleram para Itajaí e já se aproximam da chamada zona do Doldrums, uma área de pouco vento próxima a Linha do Equador. Sodebo e Macif, primeiro e segundo respectivamente, passaram pelas Ilhas Canárias e continuam beirando a costa africana na altura de Marrocos. O líder Sodebo já dá sinais de corrigir o rumo e seguir mais para Oeste.

Na IMOCA 60, os barcos PRB, Banque Populaire, Queguiner e SMA ultrapassaram os Açores e dão indícios de que permanecerão no meio do Atlântico na rota até Itajaí, estratégia diferente dos Ultimes, que estão rentes à costa da África.

Na Multi50, o Ciela Village segurou a liderança nas últimas 48 horas, mas o FenêtréA Prysmian reduziu vantagem e pode tomar a ponta a qualquer momento. Os multicascos também estão na região dos Açores.

Na Class40, categoria que tem o barco brasileiro Zetra na sétima posição provisoriamente, Le Conservateur e V and B estão literalmente empatados. A velocidade média nas últimas 24 horas dos dois foi praticamente igual, mostrando que a disputa tem tudo para ser grande até a chegada em Itajaí (SC). O Zetra está mais de 160 quilômetros atrás dos ponteiros.

Sobre a TJV2015

A regata, que é disputada em duplas, larga sempre da cidade portuária de Le Havre, na Normandia, com destino a um país produtor de café, característica que lhe rendeu o apelido de "Rota do Café". Já tendo passado por cidades como Cartagena (Colômbia), Puerto Limon (Costa Rica) e Salvador (BA) em 11 edições, essa será a segunda vez que a competição terá a cidade catarinense como chegada. Em 2013, a regata reuniu mais de 590 mil visitantes nas duas Vilas da Regata (Le Havre e Itajaí).

Mais informações no site www.transat-jacques-vabre.com/br
Facebook: https://www.facebook.com/Transat.Jacques.Vabre
Twitter: https://twitter.com/TransatJV_br

Sobre o Autor

Antonio Alonso Jr é capitão amador e cobre esporte há 15 anos, com passagens pela Folha de S.Paulo e por um UOL ainda em seus primeiros anos de vida. Jornalista e formado também em Esporte teve a excêntrica ideia de se dedicar à cobertura náutica, com enfoque para a Vela. Depois de oito anos na principal revista especializada do país, estreia seu blog em novo endereço no UOL.

Sobre o Blog

A vela é o exemplo claro de que o sucesso de um esporte não se mede em medalhas. Ela foi o esporte que mais medalhas Olímpicas deu ao Brasil. Ainda assim, é um esporte desconhecido, com enorme dificuldade de atrair público e restrito a guetos idílicos. Este blog não está interessado em resolver esse problema, mas em trazer mais para perto esse esporte excêntrico, complicado talvez, mas cheio de matizes empolgantes e que coloca atletas e meio-ambiente numa simbiose singular no mundo esportivo. Bem-vindo a bordo.

Blog Sobre as Águas