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Sobre as Águas

Vitória de Martine no Mundial é evento histórico para Vela brasileira

Antonio Alonso

22/09/2014 13h18

A esta altura todos estamos comemorando o título Mundial de Martine Grael e Kahena Kunze em Santander, na Espanha. Merecido. A dupla venceu com uma velejada digna de melhores do mundo. Saíram atrás, sabiam o que tinham de fazer e, na última perna, ultrapassaram as dinamarquesas que até então seriam as campeãs mundiais.

Mas a vitória de Martine Grael e Kahena Kunze significa muito mais do que a revelação de um enorme talento, ou da consagração da filha de Torben Grael. Essa vitória é histórica dá à Vela brasileira uma dignidade que há muito tempo era devida. Se o bronze de Fernanda Oliveira e Isabel Swan na Olimpíada de 2008 tirou nossa vela feminina da pré-história, esse título de Martine Grael dignifica um país que nunca deu bola de verdade para suas velejadoras. Não foi por falta de professores, de clubes ou de talentos. Foi porque não demos bola mesmo. Nem precisamos olhar muito para trás, basta lembrar de outra dupla campeã mundial, Laura Zanni e Isabel Ficker, campeãs do Mundial da Juventude na 420 e que abandonaram o esporte pouco depois. Quem não se lembra do talento fenomenal de Mariana "Didi" Basílio? Outra também não encontrou no Brasil as condições para ser a atleta que poderia ter sido. Foi preciso o talento e a persistência até então inéditos, trazidos pela gaúcha Fernandinha Oliveira, para que o Brasil comemorasse uma medalha olímpica na vela feminina. Quatro décadas depois da nossa primeira medalha com os homens.

E não pensem que venho aqui fazer coro com os que pensam que o Brasil é péssimo, um país onde o esporte não é valorizado. Muito pelo contrário. O Brasil tem várias (mesmo) iniciativas inéditas em prol do Esporte de alto nível. A responsabilidade é nossa, torcedores, velejadores, técnicos, patrocinadores. Nós é que deixamos tantos talentos a um passo da glória. Entre outros motivos menores porque ainda somos, sim, machistas a valer.

Parabéns Martine e Kahena. Parabéns, mulheres. A Vela agradece. O Brasil agradece.

©jesusrenedo/sailingenergy

Martine e Kahena em ação no Mundial de Vela

Da MKT MIX:

Dupla garante a única medalha para o Brasil no Mundial de Vela; Martine e Kahena desembarcam no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, nesta segunda, 22/09, às 17:15

Domingo histórico para o esporte brasileiro. As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, com apenas 23 anos, conquistaram o Mundial de Vela de Santander, na Espanha, pela classe 49erFX. O título coroou a temporada espetacular da dupla brasileira em 2014 e foi a única medalha do país na competição. A prata ficou com as dinamarquesas Ida Marie Nielsen e Marie Olsen e o bronze com as italianas Giulia Conti e Francesca Clapcich.

"É maravilhoso! Estamos muito felizes. Foi difícil, pois o vento estava bastante rondado, mas sabíamos tudo o que estávamos fazendo", disse Martine Grael.

O campeonato começou com pouco vento e regatas canceladas, mas os três últimos dias de prova foram emocionantes. Martine e Kahena brigavam ponto a ponto com a dupla da Dinamarca Ida Marie Nielsen e Marie Olsen, e para a medal race a diferença entre elas era de apenas dois pontos, com as europeias na frente.

Para garantir o ouro, Martine e Kahena precisavam chegar na frente das dinamarquesas na final. Com uma largada não muito boa, as brasileiras fizeram uma prova de recuperação fantástica e na última volta ultrapassaram as adversárias. A partir daí foi só manter a calma e comemorar muito com o público que assistia tudo bem de perto.

"Foi muito bom disputar esta regata com tanta gente torcendo por nós. Foi emocionante", disse Kahena Kunze.

O Mundial de Vela reuniu durante duas semanas os principais velejadores do mundo na baía de Santander. A competição, que terminou neste domingo, definiu 50% das vagas da Vela para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Por ser o país sede, o Brasil já possui vaga em cada uma das dez classes olímpicas.

Martine Grael e Kahena Kunze começaram a competir juntas na 49erFX no final de 2012, quando a classe foi oficializada pela ISAF. Mas a parceria de sucesso começou em 2009, quando a dupla foi campeã mundial junior na classe 420.

Na primeira temporada pela nova classe olímpica, em 2013, Martine e Kahena foram vice-campeãs mundiais, vice-campeãs europeias, campeãs do norte-americano de vela, campeãs da etapa de Miami da Copa do Mundo de Vela e campeãs sul-americanas. Resultados que garantiram a liderança do ranking mundial da classe em novembro do ano passado. Desde então, a dupla brasileira reina absoluta no topo da classificação.

O Mundial é o sexto título de Martine Grael e Kahena Kunze em 2014. Nesta temporada as velejadoras também conquistaram as etapas de Hyères e Mallorca da Copa do Mundo de Vela da ISAF, a Semana Olímpica de Garda Trentino, a Copa Brasil de Vela e a medalha de ouro no Aquece Rio International Sailing Regatta, evento teste para os Jogos Olímpicos, em agosto, no Rio. Além disso, foram também vice-campeãs dos campeonatos norte-americano e europeu, além do quarto lugar na etapa de Miami da Copa do Mundo de Vela.

Resultado Mundial de Vela – 49erFX
1) Martine Grael e Kahena Kunze (BRA) – Ouro

2) Ida Marie Nielsen e Marie Olsen (DIN) – Prata
3) Giulia Conti e Francesca Clapcich (ITA) – Bronze

Acompanhe as notícias da dupla nas redes sociais:
Página oficial da dupla Martine Grael e Kahena Kunze

Sobre o Autor

Antonio Alonso Jr é capitão amador e cobre esporte há 15 anos, com passagens pela Folha de S.Paulo e por um UOL ainda em seus primeiros anos de vida. Jornalista e formado também em Esporte teve a excêntrica ideia de se dedicar à cobertura náutica, com enfoque para a Vela. Depois de oito anos na principal revista especializada do país, estreia seu blog em novo endereço no UOL.

Sobre o Blog

A vela é o exemplo claro de que o sucesso de um esporte não se mede em medalhas. Ela foi o esporte que mais medalhas Olímpicas deu ao Brasil. Ainda assim, é um esporte desconhecido, com enorme dificuldade de atrair público e restrito a guetos idílicos. Este blog não está interessado em resolver esse problema, mas em trazer mais para perto esse esporte excêntrico, complicado talvez, mas cheio de matizes empolgantes e que coloca atletas e meio-ambiente numa simbiose singular no mundo esportivo. Bem-vindo a bordo.

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